Caros Leitores, ao que tudo indica o tsâmiko – uma dança folclórica grega – da crise internacional está longe de sua maturidade. Não bastam as notícias ruins, nem a depreciação de ativos. Não basta a degeneração do panorama geral, nem mesmo a malha europeia de implicações duvidosas ou o sonambulismo norte-americano. A partir de agora, a crise mundial também passa a assumir responsabilidades.
Isso mesmo, o lema agora é “pouca complicação é bobagem”; o negócio é assumir riscos totais. É a hora do “vai ou racha”. É chegado o momento do “novo desenvolvimentismo”. Não basta o desenvolvimentismo, doutrina econômica conhecida e questionada por muitos, defendida por alguns, a nova onda vem rebatizada com efeito de uma figura de retórica que sugere a atualidade.
Algo como neodesenvolvimentismo. O problema é justamente o neo, mas para um grande número de especialistas a complicação permanece com o desenvolvimentismo mesmo. Nascido na nossa terra pátria ainda neste ano de 2011, veio sem alarde, sem livro ou evento de lançamento. Bastaram algumas declarações aqui, outras ali.
Embasado na aplicação de políticas econômicas afirmativas em prol do desenvolvimento, conta com o Banco Central como um provável padrinho de crisma – que ao abordar a questão inflacionária, aparentemente deixa nítida a sinalização da trajetória de queda das taxas de juros na crença de que a crise europeia por si só barrará a elevação dos preços.
Exatamente assim. Transcrevo trecho extraído da matéria do jornalista Eduardo Cucolo para a Folha.com: “A expectativa é que haja uma desinflação no mundo entre 2011 e 2012, no Brasil inclusive. Essa desinflação não vai vir da política monetária [aumento dos juros]. Está vindo de outras fontes”, disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton.
Como é possível observar, a menção ao panorama mundial não deixa dúvidas sobre as novas atribuições da crise internacional.
É possível que estejam certos? Sim, é possível (honestamente é o que espero). É possível que estejam exagerando no efeito positivo do impacto colateral para forçar a nossa inflação ao centro da meta? Honestamente, penso que é o mais provável (lamentavelmente, mas torcendo para estar errado).
Mas alguns questionamentos queimam na minha cabeça, e acredito que na cabeça de muitos que acompanham de perto os recentes acontecimentos. São eles:
- O que está sendo feito de afirmativo para obtermos, nos próximos dois anos, um salto de produtividade industrial?
- O que se fez e faz para induzir um modelo fiscal de contenção inflacionária que não carregue ainda mais o peso da brutal carga tributária (sem contrapartida real e concreta em serviços e investimentos em infraestrutura)?
- Quais são, efetivamente, os investimentos em infraestrutura em franco processo de implementação, sem complicações paralisantes, ou risco imediatos de paralisação?
- Quais são as medidas efetivas em benefício do desenvolvimento educacional de aplicação industrial técnica ou operacional?
Particularmente, ficaria mais aliviado com menos figuras retóricas, menos batismos conceituais e apostas internacionais. Sinto falta de solidez, clareza de diretriz e enfrentamento crível. O fato é que com inflação não se brinca, não se negocia, não se conversa e jamais se dança, nem tsâmiko, nem tango e muito menos samba.
Vamos acompanhar. Até o próximo.