Quando o preço do barril de petróleo estava com preços acima (bem acima) de US$ 100,00 todos nós (e aqui me incluo) tentávamos adivinhar qual seria o teto – lembre-se que muitos analistas importantes disseram que ele chegaria a US$ 200,00. Hoje em dia, essas declarações são tidas como lunáticas e descabidas. De certa forma, pode-se dizer que elas foram ingredientes extras para o crescimento da suposta bolha especulativa.
Uma olhada rápida nos números do pregão e na cotação das ações da Petrobras dizem tudo: os preços caem vertiginosamente. A preocupação agora parece ser outra: até onde vai o preço do barril de petróleo? Vai despencar muito mais? Vai se estabilizar ou voltar a subir?
A nova velha descoberta
Você avinhou certo, a atual descoberta se refere ao chamado Pré-sal – reservas que estão em mar profundo e que necessitariam de grande investimento tecnológico e financeiro para exploração e aproveitamento. Vejamos trechos do comunicado oficial da Petrobras:
“Com as novas descobertas, o volume total de óleo estimado na área do Parque das Baleias, incluídos os reservatórios localizados acima e abaixo da camada de sal, já chega a aproximadamente 3,5 bilhões de barris de óleo.
Os excelentes resultados dessas duas perfurações, as ótimas respostas do teste de longa duração do poço pioneiro 1-ESS-103A e as facilidades logísticas já instaladas e em instalação na área levam a Petrobras a intensificar os estudos para acelerar a produção do pré-sal do Espírito Santo” (Almir Barbassa, Diretor financeiro e de RI da Petrobras)
O preço do barril e a estabilidade
Vários estudos demonstram que o limite para que a Petrobras continue operando no azul é de US$ 35,00 por barril. Mesmo com o barril nesse patamar, a empresa teria sobre controle todos os custos e poderia, ainda, apresentar lucro. Mas, por mais que o dia-a-dia mostre que esse valor está próximo, o mercado e a maioria dos analistas não acreditam que o preço caia tanto.
Ah, sim, os analistas erram muito. Pois é, mas existem também vários instrumentos de regulação para o preço, inclusive através de cortes na produção patrocinada pela Opep (Organização dos países exportadores de Petróleo). Outro ponto crucial e capaz de limitar quedas ainda maiores são as questões dos custos de produção – o que me leva a crer que o limite da queda está próximo.
Ora, então as ações da Petrobras são um bom negócio?
Aqui estamos, diante da pergunta do milhão
Dados importantes, divulgados recentemente, dão uma mostra dos desafios da empresa. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) caiu 14% do segundo para o terceiro trimestre, variação que demonstra o impacto do aumento dos custos. Para os investidores, trata-se de um sinal de alerta que explica parte da aversão ao papel.
Depois de muito ler, conversar e analisar, confesso que fui um dos que comprou papéis da Petrobras durante a crise. Também sou daqueles que acreditam em um “mundo limpo”, sem petróleo, mas ainda vejo esse cenário em um longo prazo. Mais, acredito que mesmo sendo uma empresa do ramo petrolífero, a Petrobras irá participar desta evolução. Confio na capacidade da companhia.
Manterei minha estratégia, olhando para o futuro da empresa com otimismo e boas perspectivas. Quando a crise for contida, o preço das commodities como um todo tenderá a subir – ainda que demore um bocado para chegar aos números de antes. Parece-me que o preço baixo no pregão é um componente único e aproveitá-lo agora pode ser a diferença entre o bom e mau negócio na bolsa de valores
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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