Bolsa de valores: aprenda o básico sobre venda coberta de call

Rodrigo comenta: “Navarro, acompanho o Dinheirama há algum tempo e depois de ler vários textos sobre a bolsa de valores eu comecei a investir de forma simples, em ações. Tenho lido que há vários tipos de operações que podem ser feitas, combinando ações e opções para obtenção de lucros mais rápidos, como os traders fazem. Você pode me indicar alguma que seja menos complexa? Obrigado“.

Há vários tipos de operações na bolsa e ocasionalmente eu realizo algumas delas para aproveitar algum cenário positivo. Gosto de avaliar tanto as análises gráficas como as fundamentalistas antes de tomar minhas decisões.

Como nosso leitor tem pouca experiência com a bolsa, preciso mencionar que trabalhar com ações, embora permita rentabilidades maiores, é um tipo de investimento bem mais arriscado que a renda fixa.

Ainda nesta linha, trabalhar com as opções, que são um tipo de derivativo, é o que há de mais arriscado dentro da renda variável, podendo, é claro, proporcionar ganhos extraordinários (e perdas do mesmo porte). Não escrevo isso para amedrontar você, mas para que aja de forma consciente e entenda onde está pisando.

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Venda coberta de call

Esta é uma operação que indico para quem deseja começar a trabalhar com derivativos. Embora ela envolva ações e opções (no caso, opções de compra, que são apelidadas de call), é uma operação onde conseguimos controlar melhor os riscos, sem abrir mão de uma alavancagem na rentabilidade e ainda gerando o lucro de forma imediata.

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O carro antigo e o cheque caução

Como há muitos leitores que ainda não investem em ações e opções, vou tentar fazer um paralelo com uma situação fictícia para explicar esta operação.

Vamos supor que você goste de carros antigos e que tenha condições de comprar um deles por R$ 30.000,00. Suponha também que este mercado sofra variações frequentes de preço, devido à oferta e demanda e outros eventos pontuais.

Dessa forma, hoje há alguém vendendo um carro do tipo “X” por R$ 27.000,00. Você sabe que em questão de dias, este mesmo carro pode estar custando R$ 31.000,00 ou R$ 23.000,00. Tudo vai depender das movimentações do “mercado”. Como você tem o dinheiro, você compra o carro “X” por R$ 27.000,00 (preço do dia).

Agora surge uma pessoa querendo o seu carro “X”, mas ela não tem o dinheiro para te pagar agora, mas poderá te pagar em 30 dias. Ela tem medo do preço do carro subir muito até lá, e te faz uma proposta: deixa um cheque caução contigo no valor de R$ 1.500,00 para você segurar o carro para ela por 30 dias pelo valor de R$ 27.000,00.

Este cheque caução não tem direito de ser devolvido. É seu, como um tipo de “prêmio” por “reservar” o carro para ela e segurar o preço por 30 dias. Como o valor do cheque não será devolvido, você já pode usá-lo como desejar.

Ao fim dos 30 dias, aquela pessoa poderá ou não comprar seu carro. Se ela resolver comprar, você tem a obrigação de entregar por R$ 27.000,00, mesmo que naquele dia o valor de mercado do carro seja R$ 40.000,00.

Se ela resolver não comprar, porque o preço do carro naquele dia está R$ 20.000,00 (e o acordo foi que ela pagaria os R$ 27.000,00) você continua com o carro e aguarda um melhor momento de mercado para vendê-lo ou mesmo para fazer outro negócio. Seja como for, você ganhou os R$ 1.500,00 do cheque caução.

Executando a operação

Espero que o exemplo tenha sido didático o suficiente para explicar a operação. Fazendo o paralelo, o preço do carro “X” é o preço da ação de uma determinada empresa multiplicada pela quantidade de ações que você deseja comprar.

O preço do cheque caução é o preço da call que você irá vender multiplicada pela mesma quantidade de ações que você irá comprar. O preço de exercício (ou strike, como também é chamado) da call deve ser o mesmo do preço da ação que você pagou.

Agora é executar a operação, que precisa ser feita de forma rápida, principalmente em dias de maior volatilidade (variação de preços) da ação escolhida.

Para isso, você precisa deixar tudo “engatilhado” no seu home broker, bastando apertar os botões “compra” para a ação e “venda” para a call, um em seguida do outro, no menor tempo que conseguir – assim você evita que alguma variação brusca no preço da ação gere um descasamento em relação ao preço da call.

Exemplo prático

Vamos trabalhar com os dados do dia 19/11/2015 e com as ações da Usiminas (USIM5). Esta é uma ação negociada a valores bem abaixo daqueles já praticados no passado, possui boa liquidez (volume de negociação na bolsa) e um mercado de opções razoável.

  • Compra de 8.000 ações de USIM5 por R$ 2,79 (total bruto investido em ações: R$ 22.320,00);
  • Venda de 8.000 calls de USIML28 por R$ 0,27 (total bruto vendido em opções: R$ 2.160,00).

Lucro bruto imediato: R$ 2.160,00.

Rentabilidade bruta: 9,68%

Como há incidência de taxas de corretagem e impostos sobre a operação de venda, o lucro líquido deve ficar em torno de R$ 1.800,00, ou 8%. Nada mal, não acha?

Riscos envolvidos

Lucros limitados: se a ação USIM5 disparar, por exemplo, atingindo R$ 3,90 no dia do vencimento das opções (que no exemplo dado será dia 21/12/2015), seremos obrigados a vender pelos R$ 2,79, deixando de ganhar muito dinheiro. Limitamos nosso lucro líquido em R$ 1.800,00.

Perda de liquidez: se a ação USIM5 cair muito, por exemplo, atingindo R$ 1,80 no dia do vencimento das opções, não seremos obrigados a vender, mas precisaremos aguardar uma melhora no preço da ação para voltar a negociá-la (ou executar a venda com prejuízo maior que os lucros).

Portanto, esta operação é recomendada para quem não precisa usar o valor investido no curto prazo.

Atenção: nunca opere com venda de opções sem estar devidamente coberto com a mesma quantidade de ações em carteira. Isso poderia colocar você numa condição de risco elevadíssimo para honrar com suas obrigações, levando-o até a uma “quebra” na bolsa.

Leitura recomendada: Crise na Bolsa de Valores ou um mar de oportunidades?

Conclusão

A bolsa de valores proporciona várias operações com diferentes riscos e necessidades de acompanhamento do mercado. É importante conhecer em detalhes cada uma delas antes de executá-las, pois qualquer erro poderá custar caro para você.

Não tenha medo de aprender e experimentar. Utilizando uma boa gestão de riscos, você poderá obter boas médias de rentabilidade, acelerando o alcance de seus objetivos financeiros.

Foto “Finance”, Shutterstock.

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