Dadas as condições econômicas atuais e o cenário que se desenrola, a caderneta de poupança é uma ótima alternativa de investimento! Começo o artigo com esta afirmação para que minha opinião fique bem clara: se você é do tipo que investe em fundos de renda fixa tradicionais, cujas taxas de administração são maiores que 1,5% e onde há incidência de Imposto de Renda, faça uma boa avaliação de sua rentabilidade líquida. As chances de seu valor ser inferior ao atual patamar de retorno da poupança é grande.
Pronto, a esta altura você já deve estar pensando: “Então vou tirar tudo da renda fixa e migrar para a caderneta de poupança”. Calma, interpretação de texto, um pouco de cautela e algumas continhas é que selarão esta possível decisão. Este artigo traz um panorama das aplicações em caderneta de poupança e informações úteis para que você decida-se de forma coerente. Um pouco de realidade faz bem: para alguns investidores
O momento da caderneta
Excluídos os meses de dezembro – momento em que os depósitos em caderneta aumentam por conta do 13o. salário -, a poupança teve, em julho deste ano, sua maior captação desde 1994. A entrada líquida de recursos chegou a R$ 6,67 bilhões no mês. A captação completa três meses seguidos com mais aportes que retiradas. Traduzindo, mais gente está optando pela caderneta em detrimento de outras modalidades conservadoras de investimento.
Mas, não! Não chega a ser a tão falada migração de recursos de fundos de investimento. No mesmo mês, os fundos DI e de renda fixa também tiveram captação positiva de R$ 1,47 bilhões, segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Além disso, os recursos aplicados na poupança são bem menores que os atualmente investidos na indústria de fundos: R$ 290 bilhões contra R$ 1,291 trilhão.
De olho em agosto, setembro, outubro…
A ordem no governo parece ser simples: observar com atenção e torcer. Torcer para que o equilíbrio nos saldos das aplicações seja atingido e que os aportes na poupança não prejudiquem os fundos de investimento. Torcer para que a tal migração não ocorra. Envolver a população em uma reforma na caderneta de poupança, ainda que nos moldes já apresentados, pode trazer reflexos políticos preocupantes – 2010 é ano de eleições, não é? Estas e outras novidades sobre investimentos
Parece que o Banco Central considera importante enviar logo ao Congresso o projeto que estipula tributação para a caderneta de poupança (em valores acima de R$ 50 mil) e também as novas regras de tributação para os fundos de renda fixa. O interesse parece ser coerente, já que, segundo apurou a Folha de S. Paulo, o simples envio dos projetos já seria suficiente para lançar ao mercado a mensagem de que, em algum momento, a rentabilidade da poupança será revista. A Fazenda dá outro recado:
“Por enquanto, na nossa análise, o movimento ainda está dentro do normal. Você teve um aumento de captação na poupança, mas também teve um aumento de captação de todos os fundos. (…) O Brasil está mudando para uma situação de baixa taxa de juros e, eventualmente, a poupança vai ter que ser reformulada, mas quando e como é uma questão em aberto” – Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica da Fazenda, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo de 08/08/2009.
Tudo indica que mexer na caderneta de poupança não parece ser atividade de grande interesse por parte do governo. Fica a impressão de que se a mudança puder ser adiada, será. A mudança prevê cobrança de IR para investidores que mantém mais de R$ 50 mil na caderneta de poupança, o que atinge uma parcela pequena da população – mas não pequena dos recursos. Logo, para o pequeno poupador pouco deve mudar, com ou sem o atual projeto. Se confirmada a tendência de juros baixos, pode ser que maiores mudanças estruturais no cálculo tenham que ser feitas. Provavelmente, em outro governo.
O que deve fazer o investidor?
Como costumamos sempre defender, informação é fundamental para que suas decisões sejam assertivas. Dito isso, listo alguns dos princípios que tenho compartilhado com amigos e clientes quando o assunto é o investimento na caderneta de poupança:
- Defina bem o objetivo e seu prazo. Pode ser que o capital que você queira investir na poupança só vá ser usado no médio prazo. Neste caso, avalie a possibilidade de conhecer produtos de carteira mista, conhecidos como fundos multimercado;
- Faça bem as contas. Simplesmente tirar o capital hoje alocado em fundos de renda fixa pode não ser vantajoso, especialmente se você optou por fundos de curto prazo e onde as alíquotas de IR são maiores. Ao avaliar a possibilidade de migração, veja em que faixa de cobrança de IR você se enquadra e considere a possibilidade de esperar pelo prazo em que a taxa for menor;
- Cuidado com as taxas de administração. Já está em curso um movimento de mudança nas regras de investimento de fundos. Bancos e instituições financeiras começaram diminuindo o valor de aporte inicial de produtos cujas taxas de administração já eram mais baixas. Se você está em um produto que cobra mais do que 2% ao ano, a poupança pode ser bem mais interessante – ainda que você tenha que recolher IR para sair;
- Considere outras alternativas de investimento. Investir em títulos públicos, conhecidos agora como Tesouro Direto, é também uma decisão inteligente. Como as taxas e encargos são bem mais baixos que os encontrados nos fundos, hoje a rentabilidade final – atrelada à Selic ou à indicadores de inflação – tende a ser superior que a encontrada na caderneta de poupança.
Diante de tudo isso, lembre-se da possibilidade de mudança em todo este cenário. Apesar de não estar sendo cogitada, pode haver mudança na cobrança de IR de fundos de renda fixa; pode ser que as mudanças na poupança sejam mesmo levadas ao Congresso; pode ser que os bancos diminuam suas taxas de administração de forma mais agressiva. Por isso frisamos tanto que não adianta apenas conhecer o produto. É preciso se interessar também pelos rumos da economia
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Conrado Navarro, educador financeiro, tem MBA em Finanças e é mestrando em Produção (Economia e Finanças) pela UNIFEI. Sócio-fundador do Dinheirama, autor do livro “Vamos falar de dinheiro?” (Novatec), Navarro atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.
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