Essa situação financeira, como já disse, durou por toda a minha infância. Como consequência, acabei levando para a adolescência esse “costume” de desejar e sonhar somente com o que estava ao alcance da renda do mês. Mesmo quando comecei a trabalhar como “guardinha” e a ganhar meu próprio salário, eu agia dessa forma. Quando muito, juntava dinheiro por dois ou três meses para comprar alguma coisa mais cara.
Aprender com os exemplos, o primeiro passo
Não tínhamos na minha família o costume de conversarmos sobre dinheiro, mas a regra máxima sempre presente e implícita nas atitudes de meu pai era de a “nunca gastar mais do que a família ganhava”. Regra essa que, em minha opinião, é fundamental para quem deseja ter uma boa saúde financeira.
Infelizmente, essa não é a única regra sobre dinheiro que devemos aprender e, esse artigo, tem como objetivo contar resumidamente como foi que aprendi a segunda regra sobre educação financeira
Aprender com a vida, sempre!
O início da minha vida financeira foi uma maravilha, afinal, eu não era uma pessoa que me importava com grandes luxos, não tinha impulsos de consumo e meu pequeno salário (fruto do meu primeiro emprego) era suficiente para sanar meus “pequenos” desejos e sonhos de consumo.
Alguns anos depois, surgiu um sonho que estava além do meu salário: cursar uma faculdade. Foi então que utilizei meu salário para pagar um cursinho pré-vestibular para tentar uma universidade pública. Eu não passei no vestibular. Mas, graças à boa nota que tirei no ENEM, eu consegui uma bolsa de 100% no ProUNI.
O sonho de cursar a graduação começava a virar realidade. Entretanto, mesmo não pagando a mensalidade da faculdade os gastos com livros, xerox e transporte para outra cidade começaram a pesar demais no meu bolso. Eu era muito jovem, sonhador, ganhava pouco e já gastava dinheiro feito “gente grande”.
Aprender com os fracassos é sempre uma opção
Contrariando os ensinamentos de meus pais, passei a gastar mais do que ganhava em um mês. E isso não aconteceu uma ou duas vezes; não, foram várias ocasiões fazendo isso. As dívidas se acumularam e viraram uma bola de neve e, quando me dei conta, meu saldo bancário estava negativo e minha vida financeira fora de controle.
Conversar com alguém sobre minha situação financeira era como um tabu pra mim: eu tinha vergonha de admitir que o “rapaz inteligente” que conseguiu bolsa de 100% na faculdade era incompetente demais para administrar seu salário e seus os gastos pessoais. Por vergonha e até mesmo por um pouco de orgulho, escondi da minha família e da minha namorada os meus problemas financeiros.
A verdade é que sofri calado durante meses com a preocupação de ter que parar com a faculdade
Aprender com os outros acelera tudo!
Depois desse sufoco, passei a pesquisar na Internet sobre finanças pessoais e encontrei diversos sites, blogs e artigos sobre assunto. Na mesma época, também comprei um livro chamado “Pai Rico Pai Pobre” (Ed. Campus), de Robert Kiyosaki. Com essas leituras aprendi muito sobre economia, investimentos e finanças.
Infelizmente, a prática não funcionava muito pra mim – os autores, na maioria das vezes, escrevem para um tipo de pessoa cuja renda estava muito além da minha. Pensar em investir em ações, títulos ou imóveis com o que sobrava do meu salário era impossível, então eu só aproveitava mesmo algumas dicas sobre como organizar o orçamento mensal.
Mesmo sem muita perspectiva, continuei a estudar sobre o assunto. Foi lendo uma edição da Revista Você S/A que conheci o blog Dinheirama, dos hoje amigos Conrado Navarro e Ricardo Pereira. Depois de ler muitos artigos e ouvir muitos podcasts no blog, eu percebi que antes de aplicar meu dinheiro em um investimento, teria que aprender o “bê-á-bá” da educação financeira.
Aprender a investir e poupar não significa deixar de consumir
A primeira regra eu já tinha aprendido com meus pais: “nunca gastar mais do você ganha”. A segunda, tão básica como a primeira, e que eu ainda não tinha aprendido nem tampouco posto em prática era: “Ter uma reserva financeira para emergências”.
É uma coisa tão obvia e necessária, mas que infelizmente muito de nós brasileiros temos o péssimo hábito de deixar sempre para depois. A partir de então, fiz um compromisso comigo mesmo de que pouparia todo mês 10% da minha renda, fosse ela qual fosse. Quando comecei, eram apenas R$ 50,00 – que faziam uma falta gigantesca no fim do mês, mas eu estava motivado e convicto de que aquilo era a coisa certa a se fazer.
A primeira coisa que fazia ao sacar meu salário era ir para o outro banco que tinha conta poupança e depositar os 10%. No começo, era até desestimulante depositar o dinheiro e ver a quantia ínfima que ele rendia por mês. Não tem problema, afinal aprendi que como a quantia que eu dispunha para poupar era pequena, não havia outras opções de investimentos com baixo risco e boa liquidez para no caso de alguma emergência eu precisar resgatar o dinheiro sem grandes prejuízos.
Com o passar do tempo, o compromisso de poupar os 10% se tornou um hábito: eu nem sentia mais a falta dessa grana no orçamento, pois ele tornou-se uma conta como outra qualquer que todo mês precisava ser paga. Eu aprendi a viver um padrão de vida compatível com a importância de também investir.
Quando minha namorada começou a trabalhar, eu já tinha aprendido sobre a importância de conversar sobre finanças com a família e consegui convencer minha namorada (futura esposa) a também seguir a regra de poupar 10% todo mês. O tempo passou e continuamos firmes com nossa regra dos 10%.
Mas, nem tudo são flores… Houve meses em que não foi possível depositar, principalmente quando eu e minha namorada (na época minha noiva) começamos a planejar nosso casamento. Sem problemas, o hábito e a decisão de investir já faziam parte de nossa vida: sempre recompensávamos o que deixamos de guardar depositando uma parte do nosso 13º salário no fim do ano.
Aprender ao lado de quem amamos é ainda melhor
Mais tempo passou e muita coisa aconteceu na minha vida. Conclui a faculdade, me casei, arrumei outro emprego e comecei a construir minha casa. Tudo isso sem deixar de poupar os 10% que, é claro, aumentaram de valor conforme meu salário aumentava. Descobri que é possível realizar sonhos sem deixar de sonhar.
Hoje, finalmente, eu e minha esposa conseguimos atuar na área de nossa formação e, da mesma forma que nossa renda cresceu, nosso patrimônio formado apenas com a regra dos 10% também aumentou razoavelmente. Quando olhamos o extrato bancário, os rendimentos estão longe de ser atrativos, mas com os Reais de juros somados à quantia que depositamos todo mês, ele multiplica-se de forma satisfatória (em minha opinião), se considerado o baixo risco que corremos.
Embora evitemos ao máximo fazer isso, a poupança dos 10% por várias vezes serviu ao seu propósito inicial de reserva financeira, principalmente na época entre o casamento e a construção da minha casa. Não foi premeditado, mas essa poupança para reserva financeira acabou tornando-se minha forma de investimento
Apesar de ler frequentemente sobre investimentos em livros, revistas e blogs, eu ainda não tive coragem de arriscar em alternativas como a bolsa de valores. Certamente que o maior empecilho é o medo de perder o que tanto me custou para ganhar e juntar, mas isso é um sentimento que pode ser trabalhado. E será.
Aprender sobre o risco abre oportunidades
Sinto que minha educação financeira já chegou a um patamar especial, em que posso arriscar um próximo passo com segurança. E isto isso porque há muito tempo venho fazendo a “lição de casa”, poupando, vivendo um padrão de vida sustentável e, ao mesmo tempo, estudando sobre os vários tipos de investimentos.
Dá mesma forma que abrir mão dos 10% do salário todo mês foi um “sofrimento”, tenho certeza que, no início, seja qual for o investimento escolhido a partir daqui, o “sofrimento” será o mesmo ou até pior por causa do risco maior. Um “mal” necessário para quem quer ver seu patrimônio crescer, o que nos leva à próxima regra que aprendi e pretendo colocar em prática: “Diversificar os investimentos”.
Aprender sempre significa também compartilhar
Uma coisa é ler uma opinião de alguém que trabalha na área de finanças, como os amigos que mantém este espaço. Outra coisa é aprender e fazer questão de aplicar mudanças reais em sua vida a partir de todo o esforço que eles fazem para que a educação financeira realmente transforme nossas vidas. Eu sei do que essa transformação é capaz e decidi escrever este texto para tentar motivá-lo a também tentar.
Não sou especialista, é bom que fique claro, e esta é apenas a conclusão de um leigo sobre a nossa capacidade de mudar o rumo de nossas finanças pessoais. A minha experiência me diz que educação financeira é tal como criar um filho: é preciso que você acompanhe, proteja e cuide com dedicação e paciência o rebento para que ele cresça forte e saudável. Com o dinheiro, não é diferente.
Você já passou por alguma história semelhante ou viveu desafios capazes de fazê-lo mudar suas ações diante da necessidade de se planejar financeiramente? Compartilhe conosco um pouco do que aprendeu e ajude a educação financeira a atingir cada vez mais jovens. O espaço de comentários é todo seu! Obrigado e até a próxima.
Foto de sxc.hu.