De acordo com os bancos e financeiras, as taxas altas se baseiam em 3 fatores determinantes:
- Alta carga tributária;
- Inadimplência;
- Lucro do banco para operação.
Na prática, e ainda segundo informações destas instituições, estes três componentes formam a composição do chamado spread bancário. É fato que existe certa razão quando lembramos que a questão fiscal no Brasil merece atenção e mudanças. De modo geral, trata-se de um item que pesa na formação das taxas e preços deste e de muitos outros setores. Aqui muita coisa custa caro porque incidem impostos demais, é fato. E os demais fatores?
Pessoalmente, não acredito que a inadimplência seja tão alta no sentido de representar um risco tão preocupante. Segundo consta, estamos diante do principal componente do spread bancário – fato que os bancos adoram frisar. O período de crise financeira
Muito se discute sobre a necessidade e implementação de um cadastro positivo de informações que contemple e facilite a vida do bom pagador. Tal cadastro, como o próprio nome diz, seria muito positivo, mas na prática não parece ser fator determinante para a queda das taxas de juros. Só isso não resolve.
Encarando a questão dos juros
Se levarmos em conta o volume de crédito total de 2008 em relação ao PIB, de 41,3%, podemos concluir que:
- Nossa oferta de crédito vem aumentando historicamente;
- Ainda estamos muito longe de outros países em desenvolvimento, onde a relação Crédito/PIB é de mais de 100%.
A lógica de juros altos praticada por aqui torna nossos empréstimos um dos piores negócios do mundo. E, parece, isso também influencia a inadimplência. Afinal, juros altos significam saldos devedores as vezes grandes demais. Como sempre faço questão de dizer, educação financeira é fundamental para evitar armadilhas disfarçadas de dinheiro
Cabe ressaltar, claro, que o volume de crédito praticamente dobrou entre 2002 e 2009. Entretanto, o percentual ainda é muito baixo. Aqui se evidencia a lógica de pouco crédito a preço alto, quando o crédito barato em abundância traria muito mais crescimento e oportunidade para o país. Defendo a seguinte equação:
- Juros menores = maior oferta de crédito
- Maior oferta de crédito = maior crescimento econômico
Mudanças de momento
Indo de encontro a essa lógica, os bancos públicos iniciaram uma queda mais agressiva das taxas de juros. No início de abril, o então Presidente do Banco do Brasil deixou o comando da instituição “a pedido de Lula”, que estaria insatisfeito com a lentidão na queda das taxas cobrada pelo banco.
Na última semana, após cortar taxas e continuar cedendo crédito mesmo momentos ditos turbulentos, o Banco do Brasil voltou à liderança do setor bancário no Brasil, o que animou (demais) o governo e especialmente o Ministro Guido Mantega. Já os resultados da Caixa Econômica Federal não animaram tanto. É cedo para avaliar tais medidas, mas creio que elas são importantes.
De qualquer forma, para nós é fundamental aprender a lidar com o crédito de forma saudável. Dentro de uma economia desenvolvida, o acesso ao crédito é fundamental. Cobrar, negociar e buscar alternativas mais competitivas são atitudes relevantes e que servem para pressionar as instituições – tudo para que ofereçam linhas mais baratas e dentro da realidade mundial. O crédito nestes níveis ainda me assusta.
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Ricardo Pereira é educador financeiro e palestrante, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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