Quem tem aplicação em renda variável se viu no centro de um furacão, cujo primeiro momento foi devastador. O investidor
Quebra do Lehman Brothers, venda, no saldão, do Merrill Lynch, socorro emergencial à seguradora AIG, emissão de títulos da dívida americana de curto prazo, flight to quality. Ufa! Tudo isso trouxe aos nossos ouvidos falas e frases de personagens que passaram a fazer parte de nosso dia-a-dia, como Ben Bernanke (Presidente do FED) e Henry Paulson (Secretário do Tesouro dos EUA). Agora, suas aparições são comparadas às de estrelas de cinema, mas com responsabilidade infinitamente superior.
O Navarro abordou importantes aspectos pessoais decorrentes da crise, o que, de certa forma, me motivou a escrever este texto. O que muito me chamou a atenção nos últimos dias foi o fato de que algumas velhas e sábias lições de mercado foram subitamente esquecidas. Embora o texto aborde aspectos comentados pelo Navarro em seu artigo de quarta-feira, preferi abordar os temas de forma mais referencial, com alguns números e representações.
Para nossa alegria, temos recebido inúmeros e-mails de pessoas interessadas em entender os problemas e aprender sobre a questão, para só então começarem a investir. O leitor Braga, por exemplo, pede que apontemos os fatores capazes de direcionar os ainda novatos no mundo dos investimentos em ações
Renda variável
É um mercado de risco, marcado pela volatilidade. O período 2003-2007, de retornos muito acima da média, animou muita gente e trouxe investidores carregados de emoção e pouca informação. Como o próprio nome já diz, renda variável é um tipo de aplicação que varia bastante, o que significa ver retornos positivos e negativos.
O investidor precisa estar certo de que, muitas vezes em uma velocidade espantosa, tudo pode mudar. A viagem ao sucesso depende do desenvolvimento das habilidades financeiras de cada um, do prazo determinado e das estratégias escolhidas. Por exemplo, diversificar (manter parte do patrimônio em renda fixa, parte em ações etc.) ajuda.
O fator tempo
Quem comprou ações da Petrobras há 10 anos, e mantém os ativos em sua carteira, tem hoje rentabilidade aproximada de 1900%. Que tal? Pois é, mesmo após todo esse sobe e desce, diversas crises financeiras (quem se lembra do problema com a Ásia?), o retorno acumulado é muito expressivo. Ah, o famoso longo prazo, não é mesmo?
O tempo é fundamental para o investidor, diferente do que ocorre com o especulador. Quem pensa no futuro precisa entender que o risco para o investidor
Comprar na alta e vender na baixa
Esta ai uma das afirmações mais usadas diante desta crise. A lição é importante, mas é preciso interpretá-la com cuidado. Muitos entraram na bolsa em meados de 2007, ao final de um forte ciclo de valorização. A crise traz um novo teste: é possível sustentar o prejuízo e mirar o longo prazo? De novo, o tempo.
Porque é sempre fácil falar, dizem alguns. Mas, felizmente ou infelizmente, é assim que funciona: aquele que enxerga uma crise como oportunidade pode ter, no decorrer dos anos (o bendito tempo), ganhos significativos, pois existe a possibilidade de adquirir ativos subvalorizados. Para quem investe pensando assim, comprar na baixa e vender na alta parece não ser algo muito complicado.
Não direcionar todo seu patrimônio para a renda variável
Nós insistimos. Muito. Por inúmeras vezes, conversando com alguns leitores e amigos, afirmei que não era financeiramente saudável alocar todo o poder de poupança e dinheiro disponível em ações e produtos de renda variável. “Eu gosto de correr riscos” era resposta comum.
Com dinheiro
Por que falar de tudo isso durante a crise?
Falamos antes, falamos durante e falamos depois. Falamos sempre. Durante porque é importante lembrar aos que ainda vivem o terror da crise que há saída, há horizonte possível no longo prazo. Durante porque aqueles que jamais vivenciaram um crise capaz de devorar seu dinheiro podem aprender e incorporar importantes lições.
O Dinheirama é um espaço de aprendizado, como sempre costumamos afirmar. Jamais assumimos a responsabilidade de direcionar seus investimentos
Reafirmamos aqui nosso compromisso com a responsabilidade de mantê-lo como nosso maior patrimônio. Com crise ou sem crise, levamos adiante a bandeira da educação financeira, do suporte técnico, da opinião honesta e da amizade, valores e atitudes que sobrevivem diante de qualquer tempestade. Bom final de semana.
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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