No fim, concluí que apesar de Brasil e Índia estarem em continentes distantes e terem culturas tão diferentes, os desafios que os investidores individuais enfrentam são muito parecidos, principalmente com relação à inflação, já que os problemas econômicos são semelhantes.
Tanto lá como aqui, grande parte dos investidores na hora elaborar seus planos financeiros e estratégias de investimentos desconsidera a inflação, se atendo apenas à rentabilidade nominal, ou seja, à variação ocorrida ou esperada para um determinado período.
O correto é utilizar a rentabilidade real, a qual desconta a taxa de inflação para o período e resulta no ganho de capital que de fato obterá com a aplicação.
Taxa Real = Taxa Nominal – Inflação
Taxa Nominal = Inflação + Taxa Real
Os valores de cada objetivo devem ser estimados levando em conta a inflação esperada para o período. Por exemplo, um carro que se você comprasse hoje pagaria R$ 30 mil, se for comprar daqui a dois anos, deve se preparar para pagar mais.
A inflação é um fator relevante no planejamento financeiro, principalmente quando é alta como no Brasil e na Índia, pois corrói o poder de compra da moeda corrente. Desta maneira, quanto mais longo o horizonte de tempo de aplicação, maior é a diferença entre ganhos nominais e reais.
Assim, por exemplo, uma inflação de 5% ao ano pode gerar uma diferença em torno de 20% entre a rentabilidade real e nominal em um prazo de cinco anos. Em 25 anos, a diferença será de mais de 70%.
Deste modo, se você está pensando em acumular um milhão de reais para se aposentar daqui 25 anos, estimando uma taxa de rentabilidade nominal de 10% ao ano, lembre-se que se a inflação esperada para este período for de 5% ao ano, o que você compra hoje com um milhão, não comprará em 2038. É melhor aumentar este valor.
Contudo, pode não ser fácil dimensionar a alta de preços no futuro, apesar de o governo divulgar a inflação oficial e as suas projeções. O investidor deve ter em mente que o IPCA (índice oficial de inflação no Brasil) é apenas índice genérico e que, na prática, a inflação varia de acordo com o padrão de consumo de cada família.
Cada cesta de consumo é afetada de forma diferente, de acordo com sua composição – se tem maior peso no setor de serviços, insumos básicos, bens importados ou outros. Assim, a sua inflação pode ser diferente do IPCA – em geral, sua inflação é maior.
Atualmente, a inflação da classe média está em torno de 8%, uma vez que ela é a grande consumidora de serviços e a inflação deste setor está bem elevada.
Outro cuidado que o investidor deve ter ao estimar sua inflação é que as cestas de consumo sofrem mudanças ao longo do tempo. Com o passar dos anos, o padrão de consumo das famílias também muda – aos 20 anos consumimos produtos diferentes daqueles aos 40 anos, por exemplo.
À primeira vista, muitos investimentos parecem entregar boas rentabilidades, mas quando se desconta a inflação (não esqueça também do Imposto de Renda, se incidir) percebe-se que boa parte deles entrega retornos reais negativos, ou seja, há perda do poder de compra ao longo do tempo, como tem acontecido ultimamente com a Caderneta de Poupança.
Para que o investidor atinja ganhos reais, recomendo que componha sua carteira com, pelo menos, 10% a 20% de ativos capazes de superar a inflação no longo prazo, podendo ser fundos de ações ou de inflação. Só assim o investidor estará projetando corretamente os ganhos futuros de suas aplicações.
As projeções acerca de inflação futura e ganhos reais podem assustar alguns investidores, mas esta é maneira correta de se planejar, não se esqueça disso. Você leva a inflação em consideração no seu planejamento financeiro? Se tiver alguma dúvida, entre em contato comigo através do canal “Fale com a Sandra” no site www.orama.com.br.
Foto “Inflation”, Shutterstock.