Se você é jovem ainda, certamente se lembra de um episódio de Chaves onde a turma da vila cantava: “Se você é jovem ainda, amanhã velho será…” (pausa para momento nostálgico). Se você é jovem, mas não se lembra dessa música, permita-me perguntar: o que você fazia nas décadas de 1980/1990? Ok, não é da minha conta! Vamos ao que interessa.
Nesta minha primeira colaboração ao Dinheirama (do qual até então eu era apenas fã, obrigada Conrado Navarro!), fui incumbida da tarefa de avaliar a percepção dos jovens de hoje em relação aos investimentos. Fiquei feliz com o tema, e ao mesmo tempo preocupada.
“Ora bolas”, pensei eu com os meus botões, “como vou falar de investimentos de uma turma que mal consegue planejar o próprio futuro?”.
Claro, nunca devemos generalizar. A nova geração tem, sim, seus representantes “pé-no-chão”, que sabem que este é o momento de iniciar a captação e investimentos de recursos para viver um amanhã mais tranquilo. Mas o que se vê hoje, na maioria dos casos, são jovens cheios de vontades, ansiosos pelo hoje e alienados em relação ao futuro.
Ontem mesmo me vi diante dessa situação durante a gravação de uma entrevista para a emissora onde trabalho. Vou abrir aqui um diálogo entre mim e o jovem de 20 anos:
Eu: Você já está trabalhando?
J: Não. Trabalhar cansa muito e no ano passado quando eu tentei trabalhar acabei repetindo de ano na escola e não quero que aconteça de novo.
Eu: E o que você faz enquanto não trabalha?
J: Eu fico em casa, assisto a TV e como o dia todo. Minha mãe reclama, mas fazer o que?
Eu: Como você se vê daqui a 20 anos?
J: Nunca parei para pensar nisso, sei lá!
Eu: Mas o que você gostaria de fazer? Quais são seus sonhos? (A esta altura a ponto de ter um ataque cardíaco)
J: Não sei. Eu não tenho nenhum sonho. Pra mim está bom do jeito que está. Minha mãe me dá tudo o que eu quero. Ainda não parei para pensar nisso.
Dá para acreditar? Está gravado. Aquela conversa me deixou irritada, mas estou aprendendo a me controlar, pelo menos diante dos entrevistados e das câmeras.
Que tipo de ser humano não tem sonhos? É uma triste constatação, mas não é difícil se deparar com pessoas que abdicam da palavra expectativa em seu vocabulário.
Por que esse jovem, aos vinte anos, ainda não criou a independência necessária para erguer as mangas e procurar um trabalho? Segundo o próprio jovem, a mãe, que é manicure, se mata de trabalhar para dar o melhor para ele e seu irmão mais novo. Sempre foi assim e, pelo que eu pude perceber, assim será até que a mãe se canse de sustentar um marmanjo, ou pior, dois.
Será que é este o perfil do jovem de hoje? Espero que não!
Finalmente entramos no tema deste post: o jovem e os investimentos. Só investe quem tem esperança, quem tem expectativas e ambições futuras. Só investe quem quer ser alguém melhor no futuro, quem quer alguma coisa da vida. Prioridade, um aspecto sempre lembrado nos ensinamentos de educação financeira.
Hoje o cenário é outro: falta vontade e sobra arrogância à nova juventude. Vi agora há pouco a pesquisa divulgada pela Anbima e foi esta postura que ví ali traduzida em números: “Quero um investimento que seja simples, que me dê retorno rápido e que não me ofereça riscos” disse a maioria dos entrevistados. Ahhhh, vá!
Se você, caro jovem investidor e leitor do Dinheirama, não compartilha dessas ideias e se surpreendeu com o teor deste texto, tenho apenas uma coisa a dizer: parabéns, você está no caminho certo! Provavelmente aquela música do Chaves surtiu algum efeito sobre o seu inconsciente.
Porque amanhã velhos seremos; e seremos os velhos que plantarmos hoje. Plantar significa valorizar a educação financeira. Pense nisso! Até a próxima.
Foto “Young and senior”, Shutterstock.