O ano de 2016 continua com perspectivas negativas para inadimplência em todo o País. Pesquisa divulgada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que o número de pessoas com dívidas não pagas segue aumentando desde o fim do ano passado nas quatro regiões brasileiras avaliadas pelo indicador de inadimplência.
A alta mais expressiva foi na região Nordeste: aumento de 8,46% entre os consumidores com dívidas em atraso. Em seguida aparecem a região Sul (5,56%), Centro-Oeste (5,15%) e Norte (4,98%). De acordo com as entidades, desde 2012 não se observava, na virada de ano, crescimentos anuais tão intensos na quantidade de brasileiros que passaram a atrasar suas contas.
Para Honório Pinheiro, presidente da CNDL, o crescimento generalizado da quantidade de pessoas negativadas nas regiões analisadas reflete o difícil cenário macroeconômico visto nos últimos meses, com piora dos índices de emprego e aperto inflacionário. “O encarecimento do crédito associado a alta dos preços diminui o poder de compra do consumidor, que não consegue achar espaço no orçamento para pagar dívidas”, diz.
Segundo especialistas do SPC Brasil, a projeção é que mesmo com bancos e comerciantes restringindo a concessão de crédito – fato que limita, em parte, o endividamento do consumidor – a inadimplência deve continuar acelerando pelos próximos meses, em virtude da deterioração das condições macroeconômicas do país e do aumento da massa de desempregados.
Débitos bancários acima da média
As dívidas bancárias, que englobam atrasos no cartão de crédito, financiamentos, empréstimos e seguros, registraram crescimento acima da média nas quatro regiões pesquisadas na comparação com novembro de 2014: alta de 12,43% no Nordeste, 10,10% no Norte, 10,04% no Sul e 9,46% no Centro-Oeste.
Na região Nordeste, o principal destaque foi a alta de 12,68% das contas atrasadas com o segmento de água e luz. As regiões Centro-Oeste (8,17%) e Sul (16,74%) também registraram altas expressivas no não pagamento desses serviços. Já na região Norte, os atrasos no pagamento de TV por assinatura, internet e telefone foram os mais significativos (13,37%).
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Sudeste fica fora da pesquisa
O estudo não considerou os dados da região Sudeste, que estão suspensos devido à entrada em vigor da lei no estado de São Paulo nº 16.569/2015, que determina que os inadimplentes só podem ter seu nome incluído em cadastros de devedores se assinarem um aviso de recebimento (AR) enviado pelos Correios.
Como os Correios enfrentam dificuldades para localizar os consumidores em horário comercial para colher a assinatura do AR e alguns inadimplentes se recusam a assinar o protocolo, muitos consumidores que atrasam suas contas estão deixando de constar na lista de inadimplentes.
Dessa forma, só poderão ser considerados inadimplentes se a dívida for protestada em cartório, o que implica na cobrança de taxas para ter a pendência excluída após o seu pagamento.
Segundo o SPC Brasil, essa situação causa grande distorção no mercado de crédito no País. “Com menos informações na base de devedores, a concessão de crédito deve sofrer impactos, resultando em juros mais elevados para todos os consumidores, estando eles com as contas em dia ou não”, ressalta a instituição em nota.
Participação da classe C entre inadimplentes é recorde
Segundo pesquisa realizada pela Boa Vista/SCPC, a participação da classe C entre os inadimplentes bateu recorde no fim do ano passado. Cerca 57 milhões de brasileiros têm ao menos uma dívida com o pagamento em atraso – destes, 59% pertencem à classe C. Em 2014, essa fatia era de 50%.
Já na classe B, a participação entre o total de inadimplentes caiu de 42% para 31%. Nas demais classes, houve poucas variações: na classe D/E, por exemplo, a porcentagem de inadimplentes oscilou de 6% em 2014 para 7% em 2015. Quanto à classe A, a variação foi de 2% para 3% no mesmo período.
Desemprego é maior causa da inadimplência
Outro levantamento feito pela Serasa revela que a perda do emprego é o motivo mais frequente para a inadimplência dos brasileiros – 26% dos inadimplentes apontam o desemprego como explicação para as contas atrasadas.
Fonte: Serasa
O segundo maior motivo é o descontrole financeiro, apontado por 17%, seguido pelo esquecimento na hora de pagar as contas (7%). Outros 7% dizem ter emprestado o nome para terceiros, e 7% justificam com despesas extras com serviços, educação e saúde.
O percentual de inadimplentes que apontam o desemprego como causa é maior no Sudeste, onde alcança 33% do total de entrevistados. O Nordeste vem em segundo, com 28% dos entrevistados afirmando ser essa a causa do nome sujo, seguido pelo o Sul, com 23% e o Norte, com 13%.
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Foto “overdue”, Shutterstock.