Por Walter Poladian Filho, Consultor de Investimentos e Planejador Financeiro do canal Criando Riqueza.
Lembro como se fosse hoje da euforia de vários de meus amigos, que, mesmo ainda leigos no mercado de ações, queriam participar de qualquer forma do IPO (Initial Public Offering) da BM&F, em 2008.
Um ano antes, havia acontecido a oferta pública inicial da Bovespa Holding, e as ações da empresa haviam subido 52% no primeiro dia de negociação na bolsa. Foi um acontecimento que ficou na cabeça de muita gente.
Quem participara do IPO da Bovespa tinha interesse em lucrar novamente no IPO da BM&F, e, quem ficou fora, mais ainda.
Meus amigos correram para abrir contas em alguma corretora de valores e realizar seus pedidos de reserva. O IPO acaba sendo uma porta de entrada para vários investidores.
A procura foi tanta que, no processo de bookbuilding (como é chamado o procedimento de precificação – falaremos disso mais adiante), o preço da ação foi fixado no teto do segundo intervalo estimado pelos coordenadores da oferta. A primeira faixa de preço estimada foi elevada com base no excesso de demanda constatado na oferta.
Como a demanda foi alta, os pedidos feitos na reserva não puderam ser integralmente executados. Então, houve um grande rateio, e os investidores de varejo foram atendidos somente até R$ 1.820,00.
Pessoas vinculadas à oferta foram excluídas. Foi o caso de controladores ou administradores das instituições intermediárias e da emissora, ou outras pessoas vinculadas ao IPO , bem como seus cônjuges ou companheiros, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 2° grau.
Após o leilão de abertura das ações, em seu primeiro dia de negociação, o papel já subia 25%, portanto, para quem entrou no IPO para flipar (vender no primeiro dia), a operação foi um sucesso.
Mas o que é IPO?
Conhecido no Brasil como oferta pública inicial em mercado primário, é o processo pelo qual uma empresa emite ações para captar recursos para financiar seus investimentos.
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Como funciona o bookbuilding?
A empresa emissora, em vez de fixar um preço, estabelece condições básicas de lançamento e os interessados na aquisição enviam suas ofertas, de forma sigilosa, para a corretora. Há um prazo determinado para a realização dos pedidos de reserva para participar do IPO.
No pedido de reserva, os investidores estabelecem um preço máximo que aceitam pagar pelo ativo. E devem ter uma margem de garantia na corretora, de acordo com o valor solicitado, para esta se assegurar que o investidor possui recursos para a compra, caso seu pedido seja atendido.
O preço definitivo e o rateio são apurados após a análise dessas ofertas, levando-se em conta os preços e respectivas quantidades ofertadas pelos investidores. Traduzindo-se bookbuilding para o português, seria a construção do livro (de ofertas).
Normas CVM
Nas ofertas públicas iniciais só é permitida divulgação da oferta por materiais publicitários pré-aprovados pela Comissão de Valores Mobiliários.
E, visando evitar possíveis conflitos de interesse, as corretoras não podem emitir opiniões acerca da oferta, ou seja, não podem recomendar aos seus clientes a participação ou não em um IPO.
Para você ter uma ideia como essa regra é levada a sério, no IPO da VisaNet, em 2009, nada menos que 19 corretoras foram excluídas da oferta, por uma suposta veiculação de material publicitário não submetido previamente à aprovação da CVM.
A não participação de uma oferta como essa gera enorme prejuízo para a corretora, pois, além de deixar de ganhar um altíssimo valor em comissões pela distribuição das ações, que tem um volume negociado gigantesco, a instituição acaba “se queimando” com seus clientes que desejariam participar da oferta e acabaram perdendo a reserva ou abrindo conta na concorrente.
Como saber o que fazer?
É extremamente difícil analisar, por conta própria, se um IPO vale a pena. Ou seja, se a faixa de preço estabelecida pelo coordenador da oferta é atrativa para compra.
É necessário realizar uma avaliação completa da empresa para saber se o preço que irá pagar na ação é justo.
Com certeza você já ouviu diversos casos nos quais os papéis subiram muito no primeiro dia, como o da Bovespa e da BM&F, citados no começo do meu texto. Mas há risco de perdas, também; e você deve estar ciente disso.
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A volta dos IPOs
Com a crise econômica e política que se instaurou no Brasil, os IPOs andaram meio sumidos ultimamente. Tivemos apenas dois nos últimos dois anos.
As empresas que tinham interesse em abrir capital optaram por adiar o processo, alegando momento ruim do mercado e espera por um cenário melhor.
Mas, então, por que eu trouxe esse assunto hoje? A expectativa é a de que mais empresas queiram abrir capital no segundo semestre, caso a saída de Dilma seja consumada. O próprio governo pretende utilizar-se desse meio para aliviar o próprio caixa.
Empresas como a resseguradora IRB, Caixa Seguros, BR Distribuidora, Infraero Aeroportos e Infraero Participações já estão na fila, só aguardando o momento certo.
Outras, como a produtora de celulose Eldorado, do Grupo J&F, e o Programa de Milhas Tudo Azul, da companhia aérea Azul, aguardam o momento oportuno de emitir suas ações. Essas e muitas outras estão à espera de sinais ainda mais evidentes de uma retomada econômica. Fiquemos atentos.
Nota: Esta coluna é mantida pelo Criando Riqueza, que contribui para que os leitores do Dinheirama possam ter acesso a conteúdo gratuito de qualidade.