Mercado financeiro: 3 dicas para operar a “volatilidade política”

Quando as primeiras confirmações do Lula como ministro pipocaram nas redes, o dólar disparou quase 1% em apenas 15 minutos. Até aqui, tudo dentro do esperado, afinal a insegurança dos investidores é um dos motivos que provoca alta na moeda.

Mas o que pegou muita gente de “calças curtas” é que o dólar devolveu o movimento inteiro na mesma velocidade que subiu, e seguiu acentuando as vendas para encerrar o dia em queda. Curiosamente, naquela manhã eu havia postado no Twitter do @PortaldoTrader: “Lula no ministério abala o mercado, mas tal artimanha não para em pé por muito tempo”.

Depois do baile que o dólar deu em muitos traders, alguns me perguntaram o que me fez “prever” o movimento do dólar. Como a resposta deve interessar muitas pessoas, achei melhor escrever um texto a respeito. Portanto, aqui vão dicas básicas, mas muito valiosas:

Aprenda com a história, pois ela se repete

Em primeiro lugar, no mercado o passado se repete várias e várias vezes mudando o personagem, mas mantendo a mesma roupa; a velha frase “sobe no boato e cai no fato” nunca vai sair da moda.

Foi exatamente assim no dia que a Fitch deu o grau de investimento ao Brasil, em 29/05/2008, fazendo com que o Ibovespa marcasse a sua máxima histórica – nunca mais revisitada desde então. Portanto, é preciso aprender com o passado para não repetir os erros no futuro, e foi mais ou menos isto o que aconteceu com este episódio da nomeação do Lula.

Leitura recomendada: Aumento da volatilidade favorece investidores (entenda e aproveite)

O ex-presidente no ministério já vinha sendo mencionado antes da manifestação do dia 13/03 e o mercado tratou de precificar esta expectativa até atingir o ápice, com um movimento agudo no exato momento em que tudo se confirmou. Uma vez que o movimento se cumpriu, nada mais natural do que embolsar o lucro, daí o repentino movimento contrário.

E tem mais: quando falaram sobre a suspenção desta nomeação, mercado mal se moveu, pois o que deveria cair, já havia caído. Por isso, não se espante se, no momento em que a queda da presidente se confirmar, os mercados iniciem um forte movimento de realização de lucros.

Ao longo da minha carreira, colecionei algumas sacadas excepcionais, como uma venda na Sadia um dia antes dela anunciar a perda com derivativos cambiais, em 2008, e uma recomendação de venda no dólar na máxima de 2013.

Como muitos outros especialistas de mercado, tive inúmeros acertos e erros também, é claro, mas os feitos excepcionais ficam sempre marcados. E quando me perguntam sobre a melhor técnica para analisar o mercado, minha resposta é o próximo tópico.

Use o bom senso

Sei que isto é subjetivo, pois o que é bom senso para mim, não será para outra pessoa, mas não raramente o mercado foge da racionalidade impressa nos gráficos e dados macroeconômicos; por isso, nestas ocasiões, pensar fora da caixa é essencial.

Só para frisar, voltarei aos exemplos que citei há pouco:

  • Sadia era uma das poucas empresas que caíam em 25/09/2008 (com volume de negociações acima da média), sem notícias aparentes, num dia de boa alta e otimismo no Ibovespa;
  • Já o dólar, em 22/09/2013, batia uma alta recorde dos últimos 4 anos quando Tombini cancelou uma importante viagem a Jackson Hole após uma reunião com a presidente para discutir medidas para conter a alta eufórica da moeda.

Em ambos os casos, foram eventos atípicos, e não um simples candle ou indicador técnico, que me chamaram a atenção. Claro que o ferramental técnico ajudou e teve seu papel na história toda, mas tais técnicas, sozinhas, jamais teriam me auxiliado a chegar às conclusões que cheguei.

Às vezes o melhor gatilho para uma oportunidade de operação está escancarado nos bastidores do mercado, camuflado no vai-e-vem de Brasília.

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Não dá para negar que a linha entre bom senso e insensatez é muito tênue, mas, por outro lado, não é necessário estar calejado no mercado para perceber que ele nem sempre é sensato. Por isso vamos ao último tópico deste texto.

Às vezes notícia boa é boa, mas notícia ruim é melhor ainda

Quando dizemos que a saúde econômica das nações mais influentes do mundo está progredindo, até mesmo os investidores e empresários mais ingênuos e despreparados entendem que se trata de uma boa notícia.

Com a progressão de economias como as da China, Estados Unidos e Europa, vem o avanço em outras nações menos influentes, como Austrália, Coreia do Sul e até o Brasil. Neste contexto, considerando o nosso ponto de vista, os investidores internacionais se sentem confortáveis e confiantes para investir em ativos de maior risco e, desta forma, aportes expressivos de capital chegam nas empresas brasileiras.

Contudo, se a maioria das nações do globo prosperam, mas só o Brasil vive um momento de crise, é natural que os investidores estrangeiros busquem outras opções, como Índia, Indonésia, Rússia, entre outros.

Portanto, se nós somos a “lanterninha” da prosperidade econômica, cada sinal de desaceleração dos líderes globais é comemorado como um gol a favor, pois é melhor todo o mundo ruim junto do que estarmos isolados lá atrás. E é desta forma que cada dado econômico americano decepcionante, como empregos abaixo do esperado, têm um efeito positivo na nossa moeda e bolsa de valores.

Ainda existe outra interpretação para este fenômeno, visto durante a crise do subprime em 2008, e mais recentemente com a desaceleração chinesa. Geralmente quando as coisas vão de mal a pior, é esperado algum estímulo proveniente dos Bancos Centrais, de tal forma que cada sinal negativo na economia alimenta a expectativa de novos estímulos e, consequentemente, anima os mercados.

Uma variação deste fenômeno vem acontecendo por aqui desde que os investidores decidiram que a queda da Dilma é o caminho mais rápido para uma recuperação econômica. Desta forma, cada insucesso que o governo tem – como a reprovação da CPMF, por exemplo – tem um efeito positivo no mercado.

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Conclusão

Espero que tenha ficado clara a relevância de se analisar a situação em vez de simplesmente executar mecanicamente meia dúzia de regras técnicas. Com o tempo, isso vira questão de sobrevivência, pois no longo prazo todo “caçador do setup vencedor do momento” vira um refém da situação… e não dura muito tempo.

Foto “Business figures”, Shutterstock.

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