Joseane comenta: “Navarro, um dos principais comentários que você fez e que ficou na minha cabeça diz respeito ao envolvimento da família nos objetivos financeiros de todos. Concordamos com isso, mas não conseguimos sentar e definir estes objetivos. As distrações e a vida corrida do dia a dia nos afastam deste momento. Alguma dica? Obrigada”.
Prioridades são coisas bem interessantes. Tem quem consiga manter uma agenda perfeita de compromissos com amigos no boteco quase todo dia, nas peladas de sábado, nas idas para a casa de campo nos fins de semana e por ai vai. Certas atitudes são tão automáticas que se tornam hábitos; estes hábitos representam nossas prioridades de vida.
É óbvio. Pois é, a verdade é que você sabe muito bem o que são prioridades, e também entende que elas são absolutamente subjetivas. A questão, portanto, é outra: você é mesmo o responsável por definir suas prioridades hoje em dia? Perguntando de outra forma, você faz realmente o que quer, quando quer e com quem quiser?
Confesse: você dedica pouco tempo para se conhecer melhor, discutir com a família o que realmente quer ter, ser e fazer. Ah, sim, sei que não é possível ter uma agenda 100% pessoal, apenas com compromissos claramente definidos por nós. Há o aspecto social, as demandas do trabalho, da família e dos amigos.
O problema é que costumamos nos esconder atrás das expectativas dos outros para fazer o tempo passar e chamar menos atenção – decidimos, consciente ou inconscientemente, que 90% (ou mais) das nossas prioridades consistem em parecermos ocupados demais com “afazeres” e “compromissos” para desejar apenas descansar quando possível (“Oh férias que não chegam nunca…”).
O resultado disso para o bolso costuma ser catastrófico. Raríssimas famílias entendem que o dinheiro precisa ser uma das prioridades familiares e o quadro encontrado na maioria dos lares é de endividamento, falta de diálogo e muita aversão ao planejamento financeiro.
Planejamento financeiro: para ter dinheiro é preciso ouvir mais e melhor
A esta altura, você entendeu que precisa lidar melhor com o próprio tempo e, mais do que isso, com as definições de objetivos pessoais e familiares. Você captou a essência do planejamento financeiro: ter prioridades claras, trabalhar por elas com afinco e preocupar-se menos com o que os outros pensam ou deixam de pensar de suas decisões.
Legal, recado entendido, mas como começar? Ouvindo mais e melhor o que seus entes queridos dizem, desejam e procuram. Sim, porque o ambiente doméstico parece ter perdido o elo essencial para a verdadeira união familiar: a atenção ao outro.
É provável que você jante ou tome café da manhã com sua família, mas preste mais atenção ao celular que às pessoas sentadas à mesa com você. Nestes momentos, você provavelmente passa muito tempo olhando para baixo, sem se dar conta de que as importantes conversas “olho no olho” andam escassas e esvaziadas.
Você sabe o que seu cônjuge e seus filhos estão postando nas redes sociais, mas não faz a menor ideia do que eles querem/pensam sobre o próprio futuro profissional, suas aspirações familiares e prioridades. Eu falo você, mas isso vale para cada um dos membros de sua família, que provavelmente agem da mesma forma.
Planejamento financeiro não se faz apenas com ferramentas. Pelo contrário, ele começa no entendimento de que a motivação é mais importante que a planilha utilizada. Neste sentido, acredito que algumas decisões simples podem surtir efeito tremendo:
- Puxe conversa, mas com carinho, de forma agradável e estabelecendo contato visual efetivo;
- Defina refeições diárias com a presença de todos, mas sem celulares e televisão;
- Escreva suas metas pessoais e incentive seus familiares a fazer o mesmo. Conversem sobre cada uma destas metas sem fazer piadas ou tratá-las como coisas desimportantes;
- A partir das metas de todos, criem um quadro de objetivos a serem realizados por toda família (uma viagem, entrada na casa própria, diminuir as despesas, trocar de carro, elevar a renda média investindo em formação etc.).
Conclusão
Nós não somos ruins em definir e respeitar prioridades, embora pareça ser este o caso. A mudança precisa vir no sentido de questionar mais as atividades automáticas e as distrações impostas pelo atual estilo de vida (mensagens instantâneas, informação demais e conectividade full time).
O convite, portanto, é para que você dedique mais de seu tempo a você e sua família, mas não nas redes sociais. Trate de ser mais inteligente enquanto estiver entre seus próximos: faça questão de questioná-los sobre seus anseios, estando pronto para ouvi-los atenta e calorosamente. Pare de vigiar e procure participar!
Garanto que depois de criar as condições favoráveis (e necessárias) para um diálogo franco, sincero e sem interrupções ou distrações, vocês serão capazes de buscar objetivos comuns de forma coordenada. O Facebook pode esperar; seu relacionamento e seu futuro talvez não. Até a próxima.
Foto “family drawing money house clothes and video game symbol on the chalkboard”, Shutterstock