O rigor fiscal, a adoção do sistema de metas de inflação, o cambio flutuante e os juros – que nos últimos 8 anos começaram a cair de forma gradual -, transformaram e modificaram a estrutura do país, acostumado anteriormente a diversos planos (econômicos) salvadores e constantes mudanças no comando do Banco Central e nos ministérios ligados á área econômica.
As mudanças que colocaram o país na rota de ouro de grandes transformações mudaram também o perfil da população. A inflação sobre controle mudou a tradição de uma economia em rota de colisão com o trabalhador – que via, especialmente durante as décadas de 80 e 90, sua renda totalmente comprometida e desvalorizada no final do mês, quando os preços variavam do dia para noite. Época em que investir
As boas novas criaram um país mais competitivo, mas ainda longe do que se considera internacionalmente ideal. Cabe lembrar que a própria população ainda não desenvolveu o planejamento financeiro, atividade que se tornou possível com o controle inflacionário.
Uma nova mudança surge no campo dos investimentos
A taxa básica de juros da economia, conhecida como Selic, está no patamar mais baixo de sua história: 9,25% ao ano. Os investidores, que antes tinham rentabilidade de dois dígitos garantida, começam a perceber que precisarão “navegar por outros mares”.
A bolsa de valores, que desde 2002 desenvolve um projeto de popularização dos investimentos
Desde a adoção do Plano Real, o mundo atravessou algumas crises econômicas, como as crises russa, asiática, do México e da Argentina. Em todas, os efeitos ao país foram significativos, onde a desvalorização da moeda e o aumento da taxa de juros (para reter os dólares) eram as únicas saídas.
Comemoremos!
Via de regra, o país recorria ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para empréstimos. Hoje a situação se inverteu: somos credores do fundo. Felizmente, na maior de todas as crises – a que atualmente atravessamos – o país conseguiu se sair bem. É surreal imaginar que não teríamos desdobramentos, mas a robustez interna de um país que acabara de receber o grau de investimento possibilitou uma travessia mais amena pelos momentos difíceis.
Outro item a comemorar foi o surgimento de grandes empresas e grupos no país. Empresas brasileiras que se tornaram presentes no mundo todo e reconhecidas pela sua alta competitividade. É bem verdade que nesse tempo muitas multinacionais desembarcaram em nosso país, mudando a cara e o sotaque de muitos setores.
Estatais que eram verdadeiros elefantes brancos tiveram que se adaptar a uma economia que crescia em ritmo frenético, com grande déficit de serviços. Quem se lembra das antigas companhias telefônicas de 15 anos atrás? Pois é, imaginar como serão os próximos 15 anos é um exercício extremamente difícil, pois o mundo passa por mudanças importantes. E a velocidade das mudanças espanta.
Os chamados países desenvolvidos hoje são obrigados a conviver com as demais nações de igual para igual. A tendência é ver o nível de dependência das antigas nações ricas aumentar. São os países em desenvolvimento que possuem os mercados
Isso nos lembra a maior potência em desenvolvimento mundial: a China. Um gigante que acordou e ditará a forma com que o mundo irá crescer nos próximos anos. Felizmente, já há algum tempo o Brasil optou em firmar relações comerciais de peso com o gigante oriental.
Desafios para o Brasil
É claro que existem muitos passos que o Brasil ainda precisa dar:
- A dívida interna é um obstáculo importante;
- A legislação trabalhista e previdenciária precisa ser revista para que o país possa definitivamente ser considerado um player importante no cenário internacional;
- O país precisa investir (muito) em educação para criar mão-de-obra capacitada e com alto desempenho. O país possui emprego, mas falta mão-de-obra.
Esses são, certamente, alguns dos desafios que precisaremos enfrentar nos próximos 15 anos. O importante é olhar para a frente sabendo que muito já foi feito. Tudo para motivar as novas gerações, que percebem que não existe objetivo inatingível. A inflação, quase considerado um fantasma invencível, hoje é só mais uma lembrança triste que ficou para trás. Pra frente Brasil!
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Ricardo Pereira é educador financeiro e palestrante, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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