Humberto comenta: “Navarro, tenho pensado em iniciar meu negócio próprio em paralelo ao meu atual emprego. Depois de um tempo, pretendo deixar meu emprego para me dedicar integralmente ao negócio. Fiz um plano bem completo, calculei os investimentos com o ponto comercial, preparação do local e tenho boa parte dos recursos em mãos. Em sua opinião, devo buscar o restante necessário através de um empréstimo ou devo reduzir os investimentos iniciais de forma a iniciar meu negócio sem dívidas?”
Baseado em minha experiência como empreendedor e educador financeiro, quero tratar o assunto sob o viés do cálculo dos riscos envolvidos, pois não é sensato sugerir que se coloque em xeque todas as economias de uma vida. É importante avaliarmos a possibilidade de o negócio dar certo (ou fracassar).
Proponho ponderarmos bem as coisas, e isso não significa “ficar em cima do muro”. No final, tudo se resume a quanto risco você consegue correr e se isso é algo assustador ou não. O resto a gente sempre corre atrás quando tem o verdadeiro espírito empreendedor. Calma, você vai entender.
Calculando os riscos e agindo com o pé no chão
Quando comecei o Dinheirama.com, fiz exatamente como o leitor Humberto. Na época, eu trabalhava como empregado, com carteira assinada, e em paralelo desenhei o plano do que seria meu negócio de educação financeira e comecei a colocá-lo em prática.
É prudente, principalmente em tempos de crise, não abrirmos mão de uma renda garantida em troca de outra duvidosa. Calcular e administrar os riscos sempre é algo que eu recomendo.
Por outro lado, se você tem recursos financeiros suficientes para iniciar seu negócio sem grandes problemas, ainda assim penso não ser bom aplicar todo o montante de uma vez, sem ter a certeza de que o retorno virá e que será suficiente para manter o giro do negócio e pagar um “salário” para você.
Criando o MVP
Minha sugestão para o início do negócio é que você pense no conceito do MVP (produto mínimo viável, na sigla em inglês). Um MVP é a versão mais simples de um produto ou serviço, com condições de ser entregue aos seus clientes com velocidade e com o menor esforço possível.
Em outras palavras, você até pode ter um completo plano de negócios, mas deve começar pequeno, com investimento baixo também, de forma que tenha condições de “testar” seu mercado consumidor.
E se algo der errado? Com a validação (MVP), você logo vai descobrir que para funcionar melhor você terá que fazer ajustes ou até mesmo mudar de rota. E se der certo, poderá partir para maiores investimentos e desenvolvimentos, com a confirmação de que está no rumo certo.
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Para começar a empreender, prefira o simples (sempre)
Tenho conversado com muitos jovens empreendedores e é muito comum perceber a manifestação daquelas características comuns da geração Y, que acredita ser capaz de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, sendo capaz ter sucesso em todas elas e num curto espaço de tempo.
Raras exceções à parte (e talvez com algum prejuízo na saúde ou nos relacionamentos), a maioria deles não vai atingir esse objetivo surreal – e este é mais um motivo para que você considere iniciar seu negócio próprio da forma mais simples possível.
Se eu estiver errado (tomara que esteja), começando simples e pequeno você não perderá muita coisa; mas se eu estiver certo (a chance é remota, mas existe), você evitou correr o risco de perder anos e anos de acúmulo de patrimônio ou mesmo de contrair uma enorme dívida capaz de sufocá-lo em pouco tempo (aqui os juros são altos, lembra?).
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Um modelo que foi seguido por empresas de sucesso
Lembre-se que empresas grandes e poderosas, como o Google, quando iniciaram suas operações seguiram estas estratégias de minimizar os riscos e testar o mercado. O gigante das buscas (e da publicidade) começou suas operações como um simples programa de busca com algumas propagandas “toscas”.
Na medida que o mercado foi respondendo bem, novos recursos foram sendo adicionados, novos investimentos tecnológicos foram realizados, a equipe foi crescendo e isso sempre em versões “beta”, testando constantemente a aceitação do mercado antes de darem o próximo passo. Se você parar para pensar, é algo bem lógico, certo?
Conclusão
Como educador financeiro, não posso deixar estimular você a calcular em detalhes todos os riscos financeiros envolvidos em um empreendimento. Afinal, nosso objetivo ao montar nosso negócio próprio é também obter lucro.
Em outras palavras, empreender é um tipo de investimento, e como todos os outros requer uma ação muito importante: avaliar a relação risco/retorno e verificar se há alinhamento com o seu perfil. Termino deixando uma dica bacana de leitura: “Nunca Procure Emprego”, em que o autor Scott Gerber trata do assunto de forma bastante franca. Obrigado e até a próxima!
Foto “Start simple”, Shutterstock.