Selic em 2,25% assustou o pequeno investidor, que agora quer saber o que fazer. Calma!
A quebra de recordes não para no Brasil e parece que em 2020 viveremos um ano histórico neste sentido. Com a Selic em 2,25% ao ano, estamos no patamar mais baixo desde sempre para a taxa básica de juros da economia. Mas será que isso vai evitar um desastre de quase dois dígitos no PIB? Parece improvável.
Com a decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), em 17/06/2020, a Selic chegou ao menor nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986.
Um pouco de história em relação à Selic: de outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Em outubro de 2016, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018, só voltando a ser reduzida em julho de 2019.
O corte de 0,75 ponto percentual na Selic era esperado pela maior parte dos analistas e agentes do mercado financeiro. Quem talvez esteja ainda mais perdido diante disso tudo é o pequeno investidor. A Selic em 2,25% ao ano bagunça a sua vida? O que muda? Será o fim da renda fixa?
Dica de leitura: “Quebre a Caixa, Fure a Bolha” (clique)
Selic em 2,25% ao ano. Vai cair mais?
Antes de abordar um pouco esta questão, vale contar que o BC ainda deve baixar um pouco mais Taxa Selic até o fim do ano. Em comunicado, o BC disse que as recentes reduções foram normais levando em conta o cenário econômico e que ainda pode fazer o que chama de “ajuste residual” na taxa.
“O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno. O comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, são decisivas para determinar o prolongamento do estímulo”, afirmou o BC, em nota.
Em outras palavras, o BC associa a manutenção dos juros em patamares tão baixos ao cuidado com os gastos públicos a partir de 2021. Ou seja, se a expansão fiscal não for controlada e amarrada a novas reformas e planos neste sentido, a taxa pode voltar a subir (e rápido).
Leia também: Reclamar da falta de tempo faz sentido? Adianta?
Leia também: Websérie: Aprenda a organizar a sua vida financeira em 7 dias
Selic em 2,25% ao ano: por que ela sobe e desce?
O Banco Central é o “guardião da nossa moeda”, como costumam dizer alguns economistas. Neste sentido, uma de suas principais missões é manter o poder de compra do Real, o que significa manter a inflação sob controle.
É consenso dizer que a Taxa Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. Inflação essa medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Para 2020, a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 4%, com tolerância de 1,5% para cima ou para baixo. Para ter uma referência, o IPCA medido no acumulado de 12 meses terminados em março fechou em 3,3%, o menor resultado acumulado em 12 meses desde outubro do ano passado.
Considerando a meta, a inflação ao final do de 2020 não deve ser maior que 5,5% ou menor que 2,5%. E aqui está um dos desafios do BC para o ano, uma vez que com a pandemia a inflação estimada para o ano está abaixo de 2%, segundo dados do boletim Focus. Para 2021, a meta oficial é de 3,75%, também com margem de 1,5% para cima ou para baixo.
Cabe lembrar que no fim de 2019 a inflação subiu bastante por conta da carne e do dólar, mas agora arrefeceu porque tanto a produção quanto o consumo foram interrompidos com a situação da pandemia do coronavírus.
Uma Taxa Selic mais baixa permite condições mais baratas de financiamento, empréstimos e crédito, o que tende a aquecer a economia e elevar os preços (inflação), justamente o que o Brasil precisa neste momento.
Selic em 2,25% ao ano: fim da renda fixa para o pequeno investidor?
Não. Definitivamente não. Os “profetas da perda fixa” estão cada vez mais ousados e felizes, afinal de contas com a rentabilidade cada vez menor dos produtos conversadores, mais suas estratégias de convencimento voltadas para o risco ficam eficientes. E não há nada errado nisso.
Uma carteira inteligente pressupõe diversificação e investimentos em diferentes tipos de ativos, dos conservadores aos mais arrojados, mas com percentuais que variam de acordo com o perfil do investidor, seu nível de conhecimento e apetite pelo risco.
A situação agora é mais desafiadora em termos de retorno sem risco, mas se queremos um dia ser uma economia desenvolvida, isso é absolutamente normal (e até saudável). Mas isso não significa também que a renda fixa deve ser esquecida como parte de uma carteira de investimentos bem montada.
Considerando o cenário atual de Selic em 2,25% ao ano, fiz uma rápida simulação de rentabilidade considerando cinco aplicações: caderneta de poupança, Tesouro Selic, fundo de renda fixa que investe apenas em LFT, títulos equivalentes ao Tesouro Selic para a pessoa física, CDB e LCI.
Algumas observações importantes antes de conferir a tabela:
- O Tesouro Selic possui cobrança obrigatória de 0,25% ao ano de taxa de custódia, paga à B3;
- O fundo de renda fixa do exemplo investe apenas em LFT, equivalente ao Tesouro Selic, mas não cobra nenhuma taxa (e não existe a taxa de custódia da pessoa física mencionada no item anterior);
- O CDB a 100% rende o mesmo que o fundo de renda fixa, pois são equivalentes, mas mantive para demonstrar outro produto;
- Levando em conta que o CDI fica sempre um pouco abaixo da Selic nominal, considerei 2,15% como sua referência para um ano;
- Tesouro Selic, fundo de renda fixa e CDB possuem cobrança de Imposto de Renda e isso foi considerado de acordo com os prazos de aplicação;
- A simulação leva em conta a manutenção da Selic em 2,25% ao ano por todo o período do exemplo, o que obviamente não deve acontecer. Portanto, o caráter do exemplo é ser ilustrativo, não uma recomendação.
Confira a tabela de rentabilidade:
Prazo | Poupança | Tesouro Selic | Fundo de renda fixa | CDB 100% do CDI | LCI 100% do CDI |
3 meses | 0,39% | 0,35% | 0,42% | 0,42% | 0,54% |
8 meses | 1,05% | 1,01% | 1,14% | 1,14% | 1,42% |
1 ano | 1,58% | 1,58% | 1,76% | 1,76% | 2,13% |
2 anos | 3,17% | 3,37% | 3,68% | 3,68% | 4,33% |
Como você pode perceber, os retornos estão cada vez mais próximos e passam a ficar realmente diferentes quando o prazo se dilata e as alíquotas de IR diminuem, principalmente depois de dois anos.
Para um ano, a expectativa de inflação, próxima de 2%, acaba sendo maior que retorno de praticamente todos os investimentos, com exceção da LCI 100% CDI (que é bem difícil de encontrar, diga-se).
Parece que vamos conviver com um período em que o dinheiro na renda fixa vai, na melhor das hipóteses, empatar com a inflação. Digo isso porque tanto a Selic quanto a inflação tendem a cair mais, mantendo a conclusão do exemplo mais ou menos inalterada, mesmo que com taxas diferentes.
Isso não quer dizer, no entanto, que você deve abandonar a renda fixa. A reserva de emergências, por exemplo, precisa de liquidez e muita segurança. É na renda fixa e ponto. Cabe avaliar opções, claro.
O principal, fica claro, é que na atual situação e diante do que vem pela frente, o investidor consciente precisa estudar mais sobre alternativas de investimento diferentes daquelas que todo mundo conhece. Eu começaria com fundos multimercado e bolsa de valores, e voltaremos a este assunto em novos textos por aqui.
Foto: Pixabay.