Cada vez mais as pessoas têm buscado alternativas rentáveis e seguras de investimento. Conforme as pessoas vão aprimorando seus conhecimentos em Educação Financeira, começam a descobrir que existem opções que igualam ou até mesmo superam a segurança e a rentabilidade dos produtos oferecidos pelos grandes bancos.
Costumo chamar o movimento de buscar bons investimentos fora dos grandes conglomerados bancários de “emancipação financeira”. E o primeiro passo para atingir este objetivo é abrir mão da comodidade.
A comodidade é um dos principais fatores que mantém a fidelidade dos clientes bancários. É cômodo não ter de estudar as opções de investimento e delegar esta função ao gerente do banco.
É conveniente acreditar que o nosso dinheiro só estará seguro nas contas dos grandes bancos; como também é de uma praticidade enorme investir através da corretora associada aos bancões, bastando para isso alguns cliques na própria tela do Home Banking.
Só que toda esta comodidade tem um preço: uma menor rentabilidade para o seu dinheiro. Especialmente se você tem pouco dinheiro para investir ou pode precisar do dinheiro a qualquer momento, existe um programa de investimentos imbatível: o Tesouro Direto.
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Tesouro Direto: diversos investimentos em um só
O Tesouro Direto é um programa do Tesouro Nacional desenvolvido em parceria com a BMF&F Bovespa para venda de títulos públicos federais para pessoas físicas, por meio da internet.
Através do Tesouro Direto, você vai emprestar seu dinheiro para o governo, recebendo-o de volta com juros, na data de seu vencimento. Esta é a regra geral – veremos mais à frente o que acontece se você precisar do dinheiro antes do prazo de vencimento do título.
A primeira reação de quem não investe no Tesouro Direto é justamente o medo de emprestar dinheiro ao governo, pelo histórico de falta de seriedade dos nossos governantes.
É inegável que não somos um exemplo de gestão pública. Mas você sabia que grande parte do dinheiro dos correntistas dos bancos também está investido em títulos do governo?
Nas literaturas especializadas, os títulos em moeda local (em reais, como é o caso do Tesouro Direto) são ditos como “livres de risco”, porque uma moratória seria extremamente improvável, inédita, injustificável e desastrosa por parte do governo.
Imprimir dinheiro ou rolar a dívida, emitindo novos títulos para pagar os antigos, produzem efeitos muito menos desastrosos que uma eventual insanidade de deixar de pagá-los.
Passada a fase do medo, vamos ver os diversos investimentos (modalidades de títulos) no Tesouro Direto. Cada um tem uma lógica de funcionamento totalmente distinta.
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Tesouro Selic
Você vai ganhar a variação da SELIC no período do seu investimento, menos os impostos e taxas. E como a SELIC, via de regra, costuma ser maior que a inflação oficial, o poder de compra do seu dinheiro tende a estar protegido.
Mas é uma característica peculiar ao Tesouro SELIC que o faz totalmente diferente dos demais: você pode vendê-lo a qualquer momento, mesmo antes do prazo de vencimento, que o seu valor estará maior e a rentabilidade será praticamente a mesma que você contratou.
Esta característica o faz um substituto ideal para a caderneta de poupança. O Tesouro Selic rende mais e acumula a rentabilidade diariamente (ao contrário da poupança, que só rende nos aniversários dos depósitos).
Atenção somente para os trinta primeiros dias, já que existe cobrança de IOF neste período. Isto acontece para todos os títulos do Tesouro Direto, CDBs e demais títulos privados também.
Leitura recomendada: Respostas para as 5 dúvidas mais frequentes sobre o Tesouro Direto (fuja da poupança!)
Tesouro IPCA+
O governo pagará a você a inflação (IPCA) acumulada até o vencimento do seu título mais uma taxa fixa, que você “crava” ao comprar o título. Por exemplo: se você compra um título que pague IPCA+ 5%, no vencimento do título você receberá a correção monetária (IPCA) adicionada a cinco por cento de juros ao ano.
Estes são valores brutos, sob os quais incidirão o imposto de renda, como em qualquer título do Tesouro Direto e na maioria dos títulos privados também. Mantendo o título até o vencimento, serão descontados (automaticamente, você não precisa recolher) 15% dos seus rendimentos.
Os títulos IPCA+ são oferecidos com taxas prefixadas que variam diariamente. Mas, uma vez que você comprou, será aquela a taxa compactuada com você que será levada até o vencimento.
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Tesouro Prefixado
Este é o único título que permite saber, em reais, qual será o valor que você irá receber na data de vencimento. E este valor futuro será sempre de mil reais. Você compra o Tesouro Prefixado, a uma determinada taxa. O valor que você paga é justamente o desconto da taxa anual prefixada sobre os mil reais.
Dito de outra forma, o valor que você paga no título (mais barato que mil reais) renderá a taxa anual que você contratou para que se completem os mil reais lá na data de vencimento.
Veja que receber mil reais na data de vencimento não ajuda muita coisa. Quanto valerão os mil reais lá do futuro, comparados com o poder de compra atual deste valor? É muito difícil acertar.
Portanto, ao comprar um Tesouro Prefixado, você está apostando que sua taxa contratada será maior que a inflação anual durante o período do seu investimento.
No Tesouro Direto, o que acontece se eu precisar do dinheiro antes do prazo de vencimento do título?
O Tesouro Nacional recompra o seu título todos os dias úteis, mesmo antes do vencimento. Mas isto não quer dizer que você vai vender pelo preço que você acha justo. O governo vai recomprar o seu título pelo valor de mercado dele, ou seja, mediante as condições que os títulos que estão sendo lançados no momento.
Vamos começar pelo caso mais tranquilo, que é o Tesouro Selic. Como vimos, após os trinta primeiros dias, não tem erro: dia após dia, o seu valor sempre vai estar maior. Repare, na figura abaixo, que a rentabilidade esperada (linha verde) é quase exatamente a mesma que eu iria obter (linha azul) caso resolvesse vender meu título hoje:
E como fica a venda antecipada dos demais títulos (IPCA+ e Prefixado)?
Agora é que a porca torce o rabo. Nestes títulos, a taxa que você contratou é garantida pelo governo apenas se você mantiver o título até o vencimento.
Para vender antes, você tem de aceitar o que o governo está disposto a pagar – e aqui você pode ter uma surpresa boa (ganhar mais do que a rentabilidade prometida pelo governo) ou uma péssima notícia (receber menos até mesmo do que o investimento inicial que você aplicou no título).
Esta é a chamada marcação a mercado. E o que mais influencia esta lógica de aumentar ou diminuir o valor do Título que você adquiriu são as perspectivas de juros futuros para a economia.
Após você adquirir o título, se as perspectivas futuras de juros aumentarem, seu título irá diminuir de valor e você poderá ter prejuízo. Ao passo que, se elas diminuírem, seu título vai aumentar de valor, e você pode ter uma rentabilidade maior que aquela que você contratou.
Complicado? O exemplo abaixo vai facilitar o entendimento. Coloquei alguns valores extremos para que fique bem claro o efeito.
Vamos fazer um exemplo de título Tesouro Prefixado:
- Valor presente (valor que você pagaria hoje para comprar um título) = R$620,92;
- Prazo de Vencimento = 5 anos;
- Taxa anual oferecida = 10%.
Vamos pensar um pouco. Por que o governo está propondo pagar esta taxa de 10% ao ano? Porque este valor atrai os investidores no sentido de ser maior que a inflação prevista (para o caso do exemplo), pagando um pouco mais como “prêmio” (valor acima da inflação). Digamos então, que a inflação esperada no exemplo esteja em 7% ao ano.
Mas e se, daqui um ano, a inflação dispara e vai a 28% ao ano (Deus nos livre)? O Governo vai começar a lançar títulos, por exemplo, a 30% a.a. E adivinha o que vai acontecer com seu título, que paga somente 10% ao ano? É fácil entender que ele, mercadologicamente falando, vale menos do que os atuais, que pagam bem mais de juros anuais, certo?
Se você quiser ver como isto funciona matematicamente, eis abaixo o efeito:
- Os 10% do primeiro ano fizeram seu título valorizar, passando de R$620,92 a R$683,01;
- Mas daí veio o monstro da inflação… E coitado do seu título: calculando o novo valor dele, considerando que seu valor futuro sempre será mil reais, mas agora com a taxa de 30% ao ano (vigente nos demais títulos, passando a impactar o seu também agora, pela lógica da marcação a mercado). Com quatro anos restantes para o vencimento do título, temos: no Excel, basta fazer VP (30%; 4; ; -1000). O valor do seu título passou a ser de apenas R$350,13! Bem menos que os R$620,92 que você pagou.
Veja o que aconteceria, ao longo dos anos, se os valores dos títulos lançados (por consequência da inflação) alternassem entre valores maiores e menores daqueles 10% que você contratou. Suponhamos que as taxas dos títulos prefixados, lançados pelo governo ao longo dos anos após você comprar o seu, sejam as seguintes:
TAXA CORRENTE | 10% | 30% | 5% | 3% | 20% | – |
ANOS | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 |
O “ano 0” é a data da compra do seu título. Vamos analisar quais seriam os valores dos títulos durante os anos.
A linha “INVESTIMENTO (NOMINAL)”, de cor laranja no gráfico, seria o quanto seu título estaria rendendo caso as taxas se mantivessem em 10% ao ano. Já a linha “INVESTIMENTO (MERCADO)”, de cor cinza no gráfico, é o quanto você receberia por seu título em cada um dos anos, em caso de venda antecipada.
Repare que a marcação a mercado torna a rentabilidade do seu título, para venda antecipada, maior ou menor que o rendimento de 10% ao ano contratado no seu título (linha laranja).
Se você mantiver o seu título até o vencimento, você vai receber efetivamente os 10% anuais que você contratou.
Tesouro Direto pagando inflação + 30% ao ano! Como isso?
Vimos acima os efeitos que a marcação a mercado acarreta nos Títulos Tesouro Prefixado e IPCA+. Se eu quiser vende-los antecipadamente, eu posso ter um lucro bem grande ou até mesmo prejuízo, dependendo das condições mercadológicas.
Vamos ver o caso de um de meus títulos. Comprei o IPCA 2035, com uma rentabilidade contratada de IPCA+ 6,93%, em novembro de 2015.
Naquela ocasião, a situação econômica do Brasil não era das melhores. Previsões de inflação e juros altos eram o cenário desenhado até então.
De lá para cá, as coisas melhoraram, pelo menos em questões inflacionárias. O governo reduziu as taxas de juros, e começou a lançar títulos IPCA+ com taxas bem menores que aquela que eu tinha contratado.
Como resultado, o meu título (que paga mais juros), ficou mercadologicamente mais valioso. E não foi pouca coisa: em vez de inflação mais 6,93%, se eu quisesse vende-lo hoje, eu ganharia o equivalente a IPCA+ 31% ao ano!
Veja a diferença entre a rentabilidade contratada (curva verde) e a rentabilidade oferecida para a venda antecipada (curva azul) na figura abaixo:
Trinta por cento por ano, além da inflação. Lindo, não é? Mas tem um detalhe importante: eu não pretendo vender!
Como falei neste artigo, mesmo quando você tem um lucro extraordinário no Tesouro Direto, embolsar este valor não é necessariamente a melhor das alternativas. Para começar, eu não vejo outro destino mais nobre para este dinheiro, senão o investimento para o longo prazo.
Considero também que manter esta excelente taxa de quase 7% acima da inflação, por mais quase vinte anos, seja uma decisão mais recompensadora que o próprio rendimento excepcional de uma eventual venda antecipada.
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Conclusão
O Tesouro Direto é um programa fantástico de investimentos. Com suas características únicas, reúne liquidez e boas rentabilidades, mesmo para quem tem pouco dinheiro para investir.
Além disso, é bem democrático: com pouco mais de trinta reais, você já pode começar (o Tesouro Selic que requer um pouco mais, atualmente na casa dos R$ 86 reais de investimento mínimo).
Se considerarmos a marcação a mercado, o Tesouro Direto apresenta um comportamento de remuneração variável, mas com garantia absoluta da rentabilidade futura (na data de vencimento do título). Se comparássemos com o mercado acionário, a única certeza é que os ativos vão variar de valor, para cima ou para baixo.
É a marcação a mercado que tem proporcionado ganhos enormes para quem comprou seus títulos nos anos anteriores. É importante ressaltar, porém, que esta é uma consequência muito bem-vinda, e não o objetivo em si.
Não se deve comprar títulos cujo prazo de vencimento seja incompatível com nossas necessidades, sob o risco de levar prejuízo para a casa.
Existe bastante material de Tesouro Direto aqui no Dinheirama, tudo gratuito. Aproveite-o da melhor maneira possível, porque é raro encontrar tanta coisa legal assim por aí.
Se você quiser um acompanhamento individual do seu aprendizado, para aprender a criar uma carteira de títulos no Tesouro Direto, eu tenho um curso chamado Dinheiro Sem Crise (clique e conheça).
No curso, eu respondo pessoalmente as dúvidas, em uma comunidade de trocas de experiências e aprendizado neste fantástico tipo de investimento. Um abraço e até a próxima!