Vamos falar sério sobre inflação e juros?

O IBGE divulgou, na semana que passou, a inflação oficial medida pelo IPCA para o mês de março. Como previsto, ela extrapolou o teto da meta de 6,5%, atingindo 6,59%. Essa foi a segunda vez que isso aconteceu no governo Dilma, depois da taxa em 12 meses de novembro de 2011 que chegou a 6,64%.

O ministro Mantega comemorou o feito como sempre, dizendo que a taxa mensal de março foi a menor do trimestre, aparentemente satisfeito com a situação e seguiu vendendo otimismo. Mantega disse que o país está caminhando para crescer mais em 2013 (presume-se mais em relação ao pífio crescimento de 2011 e 2012), e que as desonerações de 2013 atingirão R$ 70 bilhões, subindo para R$ 88 bilhões em 2014.

Certamente, ninguém, e nenhum economista, nega os esforços que estão sendo feitos. Contudo, na visão de muitos, inclusive a nossa, de forma errada. Medidas pontuais e de curto prazo agem sobre a economia também de forma idêntica. Claro que existem alívios no curto prazo, mas isso não serve para domar a persistente inflação.

Só para lembrar, nos dois últimos anos tivemos taxas de 6,50% e 5,84% e não lembramos mais desde quando a meta está congelada em 4,5%, com variação para mais ou menos de 2,0%.

A inflação persiste em patamares altos por diferentes razões. O diagnóstico de desequilíbrio entre oferta e demanda se torna mais grave quando avaliamos outros aspectos. O emprego melhor trouxe mais renda e elevou o consumo. A escassez de mão de obra com especialização mínima elevou salários. As taxas de juros baixas e crédito abundante pressionaram mais.

Do outro lado, a produção industrial cresceu somente 0,30% em 2011 e encolheu 2,70 em 2012. Os investimentos também caíram como participação no PIB. Em 2010 representaram 19,5%, em 2011 19,3%, para encolher para 18,1% no ano passado. Ainda no ano passado, a formação bruta de capital fixo encolheu 4%. Nem é preciso lembrar que investimento é o pilar do crescimento futuro.

Outro fato que não podemos esquecer é que o Brasil carrega enorme cultura inflacionária e muitos gatilhos não foram desarmados. Preços de aluguéis, tarifas públicas e correção salarial são alguns dos vícios que integram esse conceito. Dai derivam tentativas de repasses de preços, independentes de o mercado permitir ou não. Essa indexação/repasse pode limitar efeitos de desonerações ou outras artimanhas como a redução do custo de energia.

Em que pese a difusão da inflação ter sido menor em março que no mês anterior (69% de 72%), em onze áreas pesquisadas pelo IBGE a inflação já está em dois dígitos. Mais que isso, excluídos preços administrados, o IPCA já estaria próximo de 8,2%, o maior índice em 10 anos. Estamos jogando pela janela quase tudo que conquistamos nesses últimos anos, incluindo os dois governos Lula.

A teoria manda que o banco central cuide da inflação, mas existem suspeitas sobre sua perda de autonomia, já que juros baixos viraram política de governo e de ministros. Já deveríamos estar ampliando a taxa de juros básica, posto que as chances do governo cortar gastos expansionistas beira zero. Com o processo sucessório aberto prematuramente, fica difícil aumentar juros, reduzir o emprego ou limitar programas sociais.

Uma coisa parece certa: baixo crescimento com inflação alta não ganha eleição se for bem aproveitada pela oposição. Porém, como bem disse Delfim Neto (achamos que foi ele), se o governo conseguir manter a inflação em algo como 6,0% e o crescimento de 2013 em 3,0%, a presidente Dilma estaria reeleita. O governo parece estar tentando administrar exatamente algo como isso.

Se quisesse realmente domar a inflação, o Banco Central já estaria aumentando juros, o governo estaria atraindo investidores com medidas de longo curso (e não pontuais), reduzindo gastos de custeio e estimulando a concorrência (reduz preço), e não protegendo a indústria nacional.

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Foto de freedigitalphotos.net.

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